Por meio da literatura, crianças e jovens podem encontrar suas próprias respostas para dilemas como o amadurecimento e a morte, entre outras etapas. Veja nossa seleção de obras para ajudá-los nessa reflexão
Foto: Nana Sievers
Saber entender o ciclo da vida é um aprendizado importante para as crianças crescerem mais fortes
Assim como nós, adultos, quase toda criança tem inquietações sobre a vida. O nascimento de um irmão e a morte de um colega de escola ou ente querido, por exemplo, podem gerar medos e angústias. Cabe aos pais dar acolher e respeitar esses sentimentos. Mas como fazer isso? A literatura infantojuvenil é uma grande aliada, já que trata de experiências humanas universais e abre espaço para odiálogo em família. "Os livros são um jeito de dizer 'aqui em casa esse assunto não é proibido. Podemos falar sobre ele, se você quiser'", diz Denise Guilherme Viotto, mestre em Educação e curadora do A Taba - Leitura em Rede.
A literatura permite que a criança se coloque no lugar do outro, que olhe "de fora" e analise a situação de modo mais amplo. Com ela, os pequenos atribuem significado ao que estão vivendo e ganham repertório para lidar com o mundo que os cerca."Por meio das histórias e da identificação com os personagens, eles entram em contato com suas percepções de mundo, refletem sobre o modo como estão se inserindo nele, questionam, pensam, elaboram seus conflitos e nomeiam seus sentimentos", explica a psicóloga Paula Saretta de Andrade e Silva, doutora em Educação pela Universidade estadual de Campinas (Unicamp) e criadora doblog Ouvindo Crianças.
As boas obras não oferecem receitas prontas para superar a morte, por exemplo, nem passam lições de moral, dizendo o que é certo ou errado. A função delas é mobilizar e despertar emoções e sentimentos, mudando nossa visão. É importante lembrar que um único livro não esgota o tema em questão. "A literatura não existe para resolver um problema específico ou para ser algo que se encaixe perfeitamente naquilo que o adulto gostaria de tratar com a criança. A beleza está exatamente em experimentar as sensações que as histórias podem proporcionar como algo mágico e imprevisível", pontua Paula.
O papel da família é fomentar a reflexão e evitar juízos de valor, assumindo que não há uma resposta única para algumas questões. Tal tarefa é complexa, mas possível quando há conexão emocional entre pais e filhos. "O ideal é ouvi-los, respeitando o que sentem, sem julgamentos", argumenta Denise. Por esse motivo, não precisamos marcar uma hora para conversar ou fazer perguntas sobre a leitura. O assunto pode vir à tona pela própria criança, se ela quiser falar a respeito. "Em alguns momentos, os pequenos nos dão pistas de como e quando devemos intervir com nossa visão de mundo e opinião", diz Paula. Isso ocorre, por exemplo, quando perguntam se algo parecido já aconteceu conosco, se nos questionam sobre o significado de algo ou quando os ajudamos a interpretar seus sentimentos cometando: "olha só, filho, esse personagem também ficou triste. É muito ruim quando isso acontece, não é?".
Independente da obra escolhida, o que importa, portanto, é a qualidade da interação entre os mais novos e os adultos. A seguir, confira nossas sugestões de obras, entre clássicos infantis e lançamentos recentes, para discutir com crianças e adolescentes sobre as fases da vida.
Especial Dicas de Livros Centenas de dicas de todos os gêneros literários, para você e sua família! |
As boas obras não oferecem receitas prontas para superar a morte, por exemplo, nem passam lições de moral, dizendo o que é certo ou errado. A função delas é mobilizar e despertar emoções e sentimentos, mudando nossa visão. É importante lembrar que um único livro não esgota o tema em questão. "A literatura não existe para resolver um problema específico ou para ser algo que se encaixe perfeitamente naquilo que o adulto gostaria de tratar com a criança. A beleza está exatamente em experimentar as sensações que as histórias podem proporcionar como algo mágico e imprevisível", pontua Paula.
O papel da família é fomentar a reflexão e evitar juízos de valor, assumindo que não há uma resposta única para algumas questões. Tal tarefa é complexa, mas possível quando há conexão emocional entre pais e filhos. "O ideal é ouvi-los, respeitando o que sentem, sem julgamentos", argumenta Denise. Por esse motivo, não precisamos marcar uma hora para conversar ou fazer perguntas sobre a leitura. O assunto pode vir à tona pela própria criança, se ela quiser falar a respeito. "Em alguns momentos, os pequenos nos dão pistas de como e quando devemos intervir com nossa visão de mundo e opinião", diz Paula. Isso ocorre, por exemplo, quando perguntam se algo parecido já aconteceu conosco, se nos questionam sobre o significado de algo ou quando os ajudamos a interpretar seus sentimentos cometando: "olha só, filho, esse personagem também ficou triste. É muito ruim quando isso acontece, não é?".
Independente da obra escolhida, o que importa, portanto, é a qualidade da interação entre os mais novos e os adultos. A seguir, confira nossas sugestões de obras, entre clássicos infantis e lançamentos recentes, para discutir com crianças e adolescentes sobre as fases da vida.
Para ler, clique nos itens abaixo:
- 1. Conta de Novo a História da Noite em que Nasci
Autor: Jamie Lee Curtis
Editora: Salamandra
Uma menina pede para a mãe contar sobre seu nascimento e recupera todos os detalhes da história: um telefonema no meio da noite, a emoção, a chegada no hospital, uma viagem de avião... Enquanto repete a narrativa que já sabe de cor, a pequena vai desenhando sua árvore genealógica. Um livro singelo sobre a adoção e a espera ansiosa de uma família, que vai encantar crianças entre 5 e 6 anos.- 2. Mamãe Botou um Ovo
Autor: Babette Cole
Editora: Ática
De forma bem-humorada, o livro aborda o nascimento dos bebês, um dos temas que mais geram curiosidade entre os pequenos, e a forma como ele é, em geral, tratado pelas famílias. Na história, papai e mamãe decidem explicar o assunto, mas o fazem cada um a sua maneira, com muita embromação e caraminholas. Ainda bem que os protagonistas mirins têm outras fontes de informação e conseguem falar sobre o tema com mais naturalidade que os adultos! Com respeito pelo pensamento infantil, a autora britânica Babette Cole, mostra que, quando se trata de um assunto difícil ou polêmico, quem determina o momento da conversa é a criança, não os pais. Ótimo para meninos e meninas entre os 3 e 7 anos.- 3. Gente Pequena, Gente Grande
Autoras: Aurélie Romain e Stéphanie Vander Meiren
Editora: Saber e Ler
Abordando a passagem do tempo de forma poética, o livro conta com um projeto gráfico que remete ao tema de forma original: a primeira página começa pequena, como um embrião, e a obra vai crescendo com o passar dos anos, passando pelo nosso crescimento, juventude, maturidade e envelhecimento. De folha em folha, vemos descobertas, surpresas e emoções se acumulando e fazendo da vida uma experiência valiosa.- 4. Com o tempo
Autoras: Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso
Editora: Peirópolis
A franja fica comprida. O difícil fica fácil. O mar da pé mais longe. E as mãos envelhecem. Alternando experiências cotidianas à etapas do nosso crescimento e amadurecimento, este lindo livro ilustrado das portuguesas Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso reflete sobre tudo o que muda com o tique-taque do relógio. De forma delicada e sensível, elas mostram: com o tempo, conseguimos ver o tempo. Com o tempo, quase tudo passa e a gente muda.- 5. O Fazedor de Velhos
Autor: Rodrigo Lacerda
Editora: Cosac Naify
Neste romance de iniciação, acompanhamos o amadurecimento do menino Pedro. O adolescente encontra na literatura e na admiração por um professor meios de buscar respostas para suas inquietações. Ele também vai se apaixonar por uma jovem e experimentar o amor. Nessa jornada, vai descobrir mais sobre si mesmo e sobre o mundo. Ideal para adolescentes que querem refletir sobre a passagem para a vida adulta, a amizade, profissão, escolhas e as relações afetivas.- 6. A Árvore da Lembrança
Autora: Britta Teckentrup
Editora: Rovelle
Era uma vez uma raposa, que viveu feliz na floresta por muitos e muitos anos. Sentindo-se cansada, decidiu que era hora de partir. Desolados, os animais reúnem-se em volta da velha amiga para relembrar momentos felizes que compartilharam com ela. Uma linda surpresa, porém, vai aquecer o coração deles. Crianças a partir dos 7 anos vão se encantar com essa obra que celebra a vida e as relações pessoais e nos mostra que a dor de uma perda nunca é maior que as lembranças daqueles que amamos.- 7. Mari e as Coisas da Vida
Autoras: Tine Mortier e Kaatje Vermeire
Editora: Pulo do Gato
Mari e sua avó não têm medo de expressar o que sentem ou querem fazer. De tão parecidas, viraram companheiras, dessas que compartilham muito segredos. Tudo vai bem até que a avó adoece e perde a capacidade de se locomover e se comunicar, Mari é a única capaz de entendê-la. As bonitas ilustrações acrescentam leveza e poesia às inquietações da menina diante da difícil situação. Bom para crianças que já leem com autonomia.- 8. A Preciosa Pergunta da Pata
Autoras: Leen Van den Berg e Ann Ingelbeen
Editora: BrinqueBook
Bebês a partir de um ano podem ser apresentados a esta singela história, que conta da pata que perdeu seu patinho e ainda anda triste. "Para onde vamos quando morremos?". A pergunta não sai da cabeça dela, que questiona todos os animais que encontra. Cada um tem sua própria definição e assim não deixa de ser na nossa vida, onde não há uma única resposta para os mistérios e dilemas que enfrentamos.- 9. O Pato, a Morte e a Tulipa
Autor: Wolf Erlbruch
Editora: Cosac Naify
Nesta obra, o autor alemão Wolf Erlbruch, que ganhou o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais prestigiado da literatura infantojuvenil no mundo, reflete sobre uma dúvida recorrente: para onde vamos? A história narra o encontro e o início de uma amizade incomum, entre um pato e a morte, representada aqui por um esqueleto simpático. Ao se encantar com o animal, ela perde a noção do tempo e passa a curtir a vida, aprende a mergulhar e a subir em árvores. De forma leve, a angústia da perda é abordada sem juízo de valor.- 10. Harvey - Como me Tornei Invisível
Autor: Hervé Bouchard
Editora: Pulo do Gato
Nessa sensível narrativa sobre a perda e o amadurecimento, o menino Harvey vê sua vidinha virar de cabeça para baixo depois da morte repentina do pai. Texto e ilustrações costuram sentidos para revelar os sentimentos e sensações do protagonista, que se refugia no mundo da fantasia para elaborar o luto. Com delicadeza, o livro aborda a forma como uma criança entende a morte e amplia o imaginário infantil sobre o assunto, falando da necessidade de encontrar recursos pessoais para enfrentar a dor. Voltado a quem já lê com autonomia.
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